(Ljudevit Posavski [Luís Posavski] aliando-se aos eslavos. Pintura de JF Mucke. Fonte: Wikimedia Comons)
Ao Príncipe Exilado, Lucas Posavski II
Sentindo ainda pesar
Em cima do ombro cansado
O fardo soberbo e doce
De ser senhor coroado,
Luís, duque da Panônia,
Parece que apenas sonha
Que se retira exilado.
Não há muito resistia
No castelo de Sisac,
Plantado num lugar forte,
De estratégico destaque.
Entre os rios, posto à altura,
Magnífica estrutura,
Dava trabalho ao achaque.
Sisac fora o quartel
De poderosos conchavos.
Reuniam-se entre os seus muros
Os senhores dos eslavos,
Os guerreiros poderosos
Pra traçar planos ditosos
E não caírem escravos.
Entre as sólidas muralhas,
Os potentes governantes,
Nobres de músculos e aço
Belos, viris, triunfantes,
Teciam a liberdade
Com zelo e tenacidade
Contra os francos exultantes.
Sim ele, o duque Luís,
Mais monarca que algo mais,
Imperioso defensor
Do domínio de seus pais,
Liderara campeões
De todas as regiões
Dos eslavos pela paz.
No entanto o rei poderoso
Que resistira em fulgor,
Que ousara desafiar
O romano imperador,
Que brandira a espada ingente
Por seu povo independente
Da batalha no calor;
O condutor de guerreiros,
O monarca estrategista,
O que dera tal labuta
Ao vizinho expansionista,
O que se mantinha, forte,
E fazia a própria sorte
Provendo a própria conquista -
Esse rei agora ia
Pelos campos da Panônia
Sem nem compreender ainda
Se estava exposto à vergonha;
Sem sequer ter digerido
Se havia mesmo caído,
Se é fato, ou se apenas sonha.
O que sabe no momento
É que para trás ficou
Sua casa poderosa
Que aos francos dificultou,
Capital e fortaleza,
Sede da corte e nobreza
Que a muitos desbaratou.
Sabe que estas mãos potentes
Que venceram tantas lutas
Agora não podem nada,
Tem nova e estranha labuta.
Se escondem pelas estradas.
Não há lanças nem espadas
Nos escondidos das grutas.
Sabe que aquilo que é seu
E precisa proteger
Não é mais a bela terra
Que ainda sente reger;
O que o tempo não consome,
Sua glória, seu renome
É que vão sobreviver.
Mas nesse exato momento
Não é no trono deixado
Que poderá perdurar
Seu direito consagrado.
Dos deuses foi recebido,
Seria sim exercido
Mesmo expulso e escorraçado.
Voltaria ainda ali
Pra o seu reino restaurar?
Poderia seu poder
De um jeito recuperar?
Seria ainda elevado?
Havia mesmo tombado?
Podia mesmo acabar?
Porém tinha que viver
Pra preservar sua glória.
Se hoje houvera uma queda,
Depois viria a vitória.
As armas são a justiça,
A derrota é só postiça
Para os senhores da História.
Sim, Luís era um senhor.
Seu sangue era o seu direito.
Um dia retornaria,
Num dia limpo e perfeito,
Novo reino levantando,
O seu nome vindicando,
De toda gente a despeito.
Por isso o duque Luís
Deixa o seu feudo ancestral,
Deixa a posse recebida
Dos deuses com o aval
Pra resguardar lá na frente
Mesmo em meio de outra gente
A sua herança real.
Iria buscar apoio
Na terra dos estrangeiros.
Iria buscar refúgio
Distante dos desordeiros
Que tentara controlar
E acabaram por tomar
Seus domínios bons e ordeiros.
Talvez lá encontraria
Quem lhe devolvesse o trono.
Sim, tinha que encontrar lá
Compaixão por ele, dono
Posto a correr e roubado,
E tudo foi obrigado
A deixar ao abandono.
Sim, tinha que achar quem desse
Soldados para lutar,
Valorosos cavaleiros
Pra poder recuperar
Sua honra merecida.
Quando a tivesse cumprida,
Iria recompensar.
Mas mesmo que não pudesse
Recuperar o reinado,
Mesmo que os homens cedidos
Fossem poucos pro almejado,
Tinha ainda assim certeza
Que sua alta nobreza
O faria acreditado.
Talvez não fosse pra ele
O seu trono devolvido.
Olhava então pra o seu Lucas,
Inda não muito crescido.
Será que a casa Posava
Ao poder só retornava
Com seu Lucas aguerrido?
Mas, enfim, o que importava
Para o rei nesse momento
É que tinha que sair
Do país ora cruento
Onde o inimigo instalado
Era um risco, e ir exilado,
Em busca de novo alento.
Lá fora é que encontraria
Um respaldo à pretensão.
Buscaria na Dalmácia
Um abrigo e proteção.
Pra trás alongava a vista,
Pra nova luta e conquista.
Mas outro dia, hoje não.
Filipe Cavalcante
NOTA: Lucas Posavski II é herdeiro de Luís Posavski, o duque da Baixa Panônia entre 810 e 823. Apesar da nomenclatura, o cargo na época representava para este a posição de rei. Mesmo não reivindicando o retorno de sua linhagem ao trono do que hoje é parte da Croácia, Lucas Posavski II produz em seu canal no YouTube conteúdo relacionado à Idade Média. O seu Projeto Feudo visa reviver numa propriedade rural os aspectos típicos da vida medieval, desde a agricultura de subsistência até à forja de espadas.
Para mais informações, visite o canal do Príncipe Exilado
Comentários
Postar um comentário